Sobre Encerrar Ciclos
o que precisamos aprender quando nos deparamos com o final de um ciclo?
Começar uma newsletter falando sobre ciclos que se fecham parece meio contraditório, mas acredito que seja o tema ideal para iniciar essa (nem tão) nova jornada compartilhando um pouco do que está na minha cabeça.
Antes de mais nada, prazer, sou o Luiz Gomes e, por mais que essa newsletter leve meu nome, ela não será sobre mim… mais ou menos! Eu criei esse espaço na internet para compartilhar um pouco do que fervilha na cabeça de um millennialimerso numa vida (quase) digital.
Então, sinta-se à vontade e não repare a bagunça, essa será uma jornada sem muita ordem, mas certamente com alguns pensamentos que já devem ter passado por sua cabeça também.
Se você, como eu, é da era pré-internet e está cada vez mais perdida(o) com esse turbilhão de informações em feeds infinitos. Esse espaço é para você fazer uma pausa e ler sem pressa.
Fui demitido há 15 dias
Se tem uma coisa que não nos ensinam é como lidar com a notícia que você está sendo desligada(o) de um projeto que levou meses para conceber, então vamos falar mais sobre isso.
Poucos dias antes de receber essa notícia de desligamento ouvi uma frase que fez muito sentido naquela conversa: todo ciclo um dia acaba. Na hora não dei muita atenção, mas quando me reuni com o executivo que me desligou essa frase se tornou algo tangível, estava acontecendo ali na minha frente.
Há três grandes tipos de encerramento: o que decidimos encerrar, o que é certo que será encerrado e o que nos é proposto. Provavelmente você também já passou, pelo menos uma vez, por cada um desses tipos de encerramento e, uma coisa é comum a todos eles: não é fácil encerrar.
Com o tempo até podemos calejar e lidar melhor com esses momentos, mas em algum lugar dentro da gente, cada encerramento traz alguma tristeza, revolta ou até arrependimento, é como se na hora que algo se encerra tentássemos buscar no passado algo que justifique aquilo… ou, em alguns casos algo que pudesse ter evitado esse momento.
Bom, o meu ciclo nesse projeto encerrou, esse é o fato que precisei encarar e digerir para seguir em frente. Os motivos dados? discordo de alguns, entendo outros. No final o que importa não é o achamos daquilo tudo, mas como lidaria comigo mesmo a partir dali.
Acredito que o primeiro estágio após o encerramento de um ciclo é o sentimento de inércia, como se fossemos retirados da realidade para um lugar onde as informações, memórias, expectativas e dúvidas parecem flutuar sem nenhuma ordem. Eu fiquei algumas horas nesse estado de inércia, afinal foram meses à frente de um projeto que idealizei a partir de um longo conjunto de experiências e uma pesquisa que comecei há quase 10 anos.
A inércia pós encerramento é substituída por um certo estado de alerta, onde voltamos nossa atenção para as possibilidades… o que é possível fazer agora? No meu caso, voltei os olhos para outros projetos, dessa vez organizando o que tem tem maior potencial de se tornar a nova prioridade. É possível que a maior lição da vida sobre os encerramentos é que teremos um dia seguinte, por pior que esse dia possa ser, o tempo não vai parar, o mundo não vai cruzar os braços e esperar você superar esse momento, então precisamos fazer o que dá pra fazer.
Há alguns anos, frente a outro momento de encerramento, tomei uma decisão que (de alguma forma) me ajudou 15 dias atrás. Decidi que não colocaria mais todas as minha fichas em um único projeto, por melhor e mais rentável que fosse. Todo projeto tem risco, por mais seguro que pareça, então estar totalmente dedicado a um projeto é aceitar um contexto de tudo-ou-nada.
Ter outros projetos em andamento, mesmo que em estágio inicial, me fez virar a chave para focar em outras oportunidades. Claro que isso não diminui os sentimentos que vêm com os encerramentos, mas ajudou a recarregar minhas energias para encarar os desafios do dia seguinte. Se o contexto é profissional, encerrar é, também, desapegar, deixar que aquela etapa fique para que outras oportunidades se tornem relevantes.
Você teve alguma experiência com encerramentos que marcou sua jornada? Se quiser compartilhar, fique à vontade, será ótimo poder conversar mais sobre isso e aprender com você.
Quanto vale nossa capacidade?
Talvez você seja como eu, quando aceita um desafio, é pra valer! Entro de cabeça e tenho muita dificuldade para lidar com quem só quer colher os resultados.
Há quase 10 anos li um texto que segue atual, geração "só a cabecinha” da Bia Granja, ela fala sobre um comportamento crescente de pessoas que se contentam com o superficial do conhecimento… hoje isso talvez tenha reflexo direto da forma que gastamos tempo rolando feeds em busca de satisfação rápida.
É difícil demais lidar com pessoas que não se esforçam para desenvolver conhecimento profundo sobre os diversos aspectos de trabalho, ainda mais quando seu trabalho tem como missão o desenvolvimento de algo original, com alta demanda de coleta e tratamentos de dados em busca de estratégias com resultados mais efetivos.
Nesse último projeto que participei me apresentarem um desafio que conversava diretamente com uma pesquisa que tenho desenvolvido nos últimos 10 anos, uma forma de analisar o grau de desenvolvimento das startups. A partir desse ponto muito se discutiu sobre o momento do mercado e as características desse tipo de negócio em Recife (esqueci de falar, sou e estou em Recife), até que a visão do projeto se expandiu para o desenvolvimento de uma análise da maturidade não só das startups, mas dos ecossistemas de inovação.
Imagine a complexidade disso!
Mesmo com todos os stakeholders (nome bonito pra dizer quem manda) alinhados aos novos objetivos, boa parte da liderança estava interessada em se promover com entregas rápidas, ou seja, qual o jeitinho pode-se usar para mostrar que estamos fazendo algo?
Por um lado em entendo que não dá pra se trancar numa quarto escuro por meses até ter um modelo de análise de ecossistemas de inovação, mas existem um abismo enorme entre o totalmente teórico e o tecnologicamente simplista. E é aqui que a geração só a cabecinha aparece para descredibilizar nossa capacidade, nos fazendo entrar no modo gambiarra.
Quando não há qualidade no papel de liderança, nossa capacidade perde quase todo o valor, ficando apenas nossa habilidade em entregar o que as pessoas querem mostrar, não necessariamente o que as pessoas precisam. Já estive no papel de liderança algumas vezes, sei que essa é uma missão nada agradável, mas se não há um conjunto mínimo de habilidades para lidar com as pessoas direta ou indiretamente ligadas ao seu trabalho, você estará construindo um castelo de cartas que não suporta nenhuma interferência externa.
Eu sempre ouvi as pessoas falarem que eu penso demais, então resolvi tirar um pouco dessa mistura de pensamentos da cabeça e colocá-las aqui, espero que você tenha gostado da proposta e que se sinta confortável para compartilhar comigo o que está na sua cabeça também.
Essa newsletter terá o exato formato das cartas que gostaria de enviar para amigos, contando o que está acontecendo, compartilhando ideias e até pedindo conselhos, então sinta-se como um dos meus amigos recebendo cartas à moda antiga.
se você que acessar meus conteúdos formais, tenho três outras newsletter (escrevo demais, eu sei) a kamelo news sobre desenvolvimento de startups, a konekto sobre inovação e investimentos e a one task sobre produtividade.
Até a próxima edição 👋
Tenho 19 anos, e ao longo desse processo de "me tornar adulta" tive o prazer de encerrar vários ciclos que me ajudaram no meu autoconhecimento e trilhar o caminho que mais faz sentido pra mim. Nenhuma dessas decisões teve ausência de dor, na verdade foram meses e meses cheio de crises kkkkkkk, mas finalmente pude encontrar beleza em cortar raízes velhas, para que novas pudessem florescer.
obs: estou gostando muito dos seus textos!!